Acabo de chegar do mercadinho, que fica ao lado de minha casa, aonde sempre vou. Hoje, algo aconteceu e me deu vontade de
escrever, como um berro que não foi dado.
Um jovem bonito, esguio, cheio de vida, que ali estava com a
mulher ou namorada, ficou na porta do mercado, tomando conta de seu cachorro,
que colocou preso no corrimão da escada que dá acesso ao mercado, do lado
direito de quem sobe, onde, com certeza, ele e o animal, não necessariamente
nesta ordem, estavam realmente atrapalhando a subida de pessoas idosas ou com
alguma deficiência física ou visual, que necessitam do apoio do corrimão
e da passagem o mais livre possível. Ele ficou ali plantado, com um ar
aborrecido de quem achava mesmo tudo aquilo um saco.
Eu, por minha vez, com a minha dificuldade visual, me posicionei do outro
lado e, com dificuldade, usei o meu braço esquerdo para subir as escadas.
No meio da porta de saída, tinha uma senhora idosa, com mais idade que ele, que
logo me disse: - Oh minha senhora! Quer alguma ajuda? O jovem não
se mexia do lugar e ela continuou: - Veja só, eu estava distraída!
Me desculpe não ter oferecido ajuda antes! Eu agradeci a ela e terminei o
percurso, pensando o que fez com que aquela senhora percebesse a minha
necessidade e o rapaz não ter se dado conta dela. Isso me deu a certeza que
cada vez mais tenho sobre os jovens: ELES ESTÃO TOTALMENTE DESCONECTADOS
DO MUNDO E DAS OUTRAS PESSOAS! Eles não
conseguem mais observar a realidade de uma forma suave; não se
comprometem com nada; não estão identificados com seus semelhantes
e não têm compaixão com nada, nem ninguém. Eu cheguei aos 49 anos, tendo ainda
a possibilidade de encontrar pessoas como aquela senhora, que teve pais
que a ensinaram a olhar o próximo. Este rapaz, quando chegar à minha
idade ou à idade dela, só terá em seu caminho pessoas como ele, sem tempo, sem
amor ou compaixão para dar. É numa hora dessas, que penso que Deus deixou
que a minha visão física fosse dificultada, para que eu pudesse ver,
cada vez com mais clareza, a alma humana e, que pena! O que vejo não é
bom e, pelo contrário, muitas vezes é assustador.
Sussuca Ferreira